Entrevista com Katia Lund, da revista Raiz 02.

outubro 18, 2007

Procurando compreender o país em que vive, a cineasta Katia Lund se envolveu com o cotidiano da periferia e levou para o mundo as imagens que essa realidade produz.

ENTREVISTA A CAROL SGANZERLA.

Ainda é inevitável não vincular a imagem de Katia Lund ao longa-metragem Cidade de Deus, baseado no romance homônimo de Paulo Lins. Junto com Fernando Meirelles, ela dirigiu e preparou os 200 atores provenientes dos morros cariocas para atuarem de forma inédita no cinema nacional. Desse modo, a cineasta não só deixou um marco na sétima arte como também um legado no Nós do Cinema, grupo formado pelo elenco do filme que hoje caminha sozinho, graças a seus ensinamentos e incentivo.

Embora Cidade de Deus tenha dado visibilidade a essa paulistana de 39 anos, ela já estava em cena há mais de dez anos. Em 1989 foi pesquisadora e assistente de direção no longa de Hector Babenco, Brincando nos campos do Senhor, e a boa repercussão lhe garantiu participação na produção norte-americana O paciente inglês. Na volta, fez Tieta, Central do Brasil, Gêmeas, Eu, Tu, Eles, além de premiados curtas, como Golden Gate. Em 1998, em parceria com João Moreira Salles, produziu o documentário Notícias de uma guerra particular, que revela a relação entre a polícia, os traficantes e as comunidades dos morros cariocas, fruto de sua busca por um Brasil que, até então, não conhecia: o dos excluídos.
Atordoada com a diferença entre a realidade das favelas e o que era estampado nos jornais, passou a questionar o modelo social brasileiro e seu próprio papel nessa sociedade. Em busca de respostas, ela nunca mais tirou os olhos da periferia.

Depois do sucesso de Cidade de Deus, o mundo cinematográfico queria Katia Lund e a estética inovadora do filme que fascinou todas as classes sociais. Roteiros de Hollywood choviam em suas mãos, mas Katia insistia em buscar sua raiz no Brasil. Entre os convites, aceitou dirigir uma das sete histórias do All the Invisible Children, longa sobre crianças de diferentes nações do mundo que vivem situações de pobreza, marginalização, trabalho infantil e guerra civil. Ao lado de diretores como Spike Lee, Emir Kusturica e John Woo, a diretora conta 24 horas na vida de duas crianças que se sustentam da reciclagem do papelão e alumínio em São Paulo. O lançamento está previsto para março.

Atualmente, Katia tem em mãos um documentário sobre o rap no Brasil e em Cuba parado por falta de verba. Em entrevista exclusiva, fala sobre sua relação com os moradores da favela, cinema de periferia e o impacto dessas produções.

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Entrevista com MV Bill, da revista Raiz 01.

outubro 18, 2007

RAIZ DA QUESTÃO

A PERIFERIA DO MUNDO E O MUNDO DA PERIFERIA.

EM LONDRES, O RAPPER
CARIOCA MV BILL DIZ QUE A CULTURA POPULAR E NACIONAL TAMBÉM SE FAZ DE APROPRIAÇÕES DO ESTRANGEIRO. ENTREVISTA A THEREZA DANTAS

Quais as referências culturais das periferias no Brasil – músicas, filmes, literatura?
Se for para ter como referência o que toca nas rádios e o que passa na TV, nos tornamos um povo sem referência. Não que elas não existam, mas parece que a todo momento temos que nos auto-afirmar para desconstruir a imagem de coitados e subalternos.

A mídia central vem passando que imagem da periferia brasileira?
A de que os favelados só conseguem ascensão por uma arte que essa mídia despreza, ou através da criminalidade. Depois, nos enfiam goela abaixo seus artistas, que em muitos casos são verdadeiras aberrações culturais.

Cultura brasileira, cultura popular, o que é e em que pé está?
Vejo violação tanto na cultura brasileira, a que tem a ver com a história do país, quanto na cultura popular, a que está na boca do povo. Aqui em Londres estou diante de uma situação paradoxal: a música brasileira conhecida por aqui está longe das “babas” que transitam pelas FMs brasucas. As pessoas mais antenadas conhecem mais da nossa história do que nós mesmos. Tem uma casa aqui chamada Guanabara, que toca música brasileira o tempo todo; no telão passam documentários falando da construção do Brasil, da musicalidade do Nordeste, da nossa multirracialidade. É mais fácil aprender sobre nós mesmos num club de Londres do que na TV brasileira (pelo menos para mim).

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